Saí de casa, atrasada, como de costume (hei-de ter sempre esta mania...ou talvez seja já feitio!). Inspirei fundo o ar matinal e enchi-me de alento. Mais um dia. As aulas começam cedo, e acabam tarde. Tem de ser. Pus o cachecol e apertei o casaco. Faz sempre tanto frio lá fora, e tu sabes que eu não gosto de tremelicar e as frieiras nas mãos magoam e não me deixam escrever. Era quarta-feira, o dia em que a minha mãe me leva à escola. Fechei o portão de casa e entrei no carro. Na rádio passava uma música que em tempos me fez sorrir. Bryan Adams. Naquele momento, veio-me à lembrança aquele dia, aquele dia na tua cidade, lembraste? Aquele dia em que juntos fomos o sol, a areia, o mar e a mais pura felicidade! Aquele dia onde pela primeira vez me ferraste o lábio e eu fiquei tão contente que não te disse que me tinhas aleijado. (Dessa vez - lembraste? - abraçaste-me e levaste-me para longe. Caímos na areia fina que parecia desenhar o nosso sorriso, e olhamos o sol. Depois deixaste-me à beira-mar, sozinha. Foste embora por um instante e depois voltaste, como sempre fazias. E eu senti-me tão bem quando me disseste o teu "buh" pelas costas... mesmo ao teu jeito. Pegaste em mim e juntos corremos. E eu fui sem saber para onde. Estava segura contigo. Lembro-me só de mais tarde, já longe daquela praia... Tu dançavas para mim (com o teu jeito doce), e eu sorria, e os meus olhos enchiam-se de ternura, e depois eu dançava contigo. Dançavamos os dois, muito abraçadinhos, ao som da música que ecoava nas nossas cabeças. Nesse dia dançamos tão bem... só mais tarde soube que era ao som de músicas diferentes.)
Quando voltei para casa, o gato ronronou por ti, eu ri-me (também gostava de saber onde estarias) e disse-lhe "tiraste-me os miados da boca". Passaram-se meses desde a última vez em que quis ter vontade de te beijar... Acho que já nem me lembro como eram os teus beijos. Só nunca me esqueço de como, na brincadeira, me tocavas com a língua no canto da boca e sorrias.
*